08/05/2018 10h00 - Atualizado em 09/05/2018 10h13

Descomplicando a Meteorologia - Como são ou devem ser feitas as observações de uma das variáveis meteorológicas mais conhecidas - a temperatura?

No último dia 02 de maio de 2018, a estação meteorológica do Incaper no Distrito de Aracê (Domingos Martins) registrou 7,8 °C, menor temperatura mínima do ano, medida até então, no Espírito Santo. Na mesma ocasião, na região Metropolitana, Vitória e Vila Velha também tiveram a madrugada mais fria de 2018, com 17,9 e 17,4 °C, respectivamente. Esses dados de temperaturas observadas são oficiais e fazem parte de uma rede de observação meteorológica pertencente ao Incaper e ao Instituto Nacional de Meteorologia: o INMET.

O INMET representa o Brasil junto à Organização Meteorológica Mundial (OMM) e, por delegação desta Organização, é responsável pelo tráfego das mensagens coletadas pela rede de observação meteorológica da América do Sul. A rede de estações meteorológicas automáticas do Instituto é, inclusive, a maior da América do Sul.

As medições meteorológicas são de extrema importância na rotina de análise e previsão de tempo e, para esta tarefa, os meteorologistas fazem uso de instrumentos rigorosamente calibrados e aferidos para análise das condições atmosféricas e ambientais.

Por outro lado, a população muitas vezes acaba por observar as condições do tempo por conta própria, utilizando instrumentos de baixo custo/qualidade. Neste cenário, alguns cuidados devem ser tomados e recomendações devem ser seguidas para que erros graves de medição e leitura das informações não sejam cometidos.

Diante desta situação e também pelo fato de estarmos nos aproximando dos meses mais frios do ano, aproveitaremos a oportunidade para te fazer a seguinte pergunta: você sabe como são ou devem ser feitas as observações de uma das variáveis meteorológicas mais conhecidas - a temperatura?

A OMM estabeleceu alguns critérios, padrões e recomendações para instalação de estações meteorológicas e leitura dos instrumentos. Estes procedimentos são adotados de maneira oficial no mundo inteiro, possibilitando uma conformidade nos dados meteorológicos observados em qualquer parte do planeta.

  • Observação de dados meteorológicos de temperatura dentro dos padrões recomendados

Os abrigos meteorológicos são estruturas onde os instrumentos meteorológicos ficam dispostos para que as intempéries e a ação dos raios solares diretos ou refletidos não interfiram tanto na medição dos instrumentos (Figura 1). Quando o assunto é “recorde” de temperatura máxima ou mínima, comumente escutamos "temperatura medida na sombra”. Pois bem, esta "sombra" a qual nos referimos é justamente o abrigo meteorológico.

Os abrigos, geralmente de madeira, têm persianas duplas em todas as faces, que permitem uma pequena circulação de vento no interior do mesmo e ficam instalados a cerca de 1,20 m do solo. Esta estrutura é pintada na cor branca, para reduzir o superaquecimento provocado pela radiação solar, pois a cor branca tem elevado grau de refletividade e, com isso, reduz-se o aquecimento interno excessivo dos instrumentos. Medições de temperatura do ar máxima e mínima devem ser feitas à sombra, evitando chuva, vento e outros fenômenos adversos.

Figura 1 - Abrigo da estação meteorológica convencional do INMET em Vitória/ES. Fonte: acervo pessoal/Meteorologia - Incaper.

Os termômetros que medem temperatura máxima e mínima do ar devem ficar suspensos e dispostos na horizontal em um suporte próprio, longe do contato com as paredes do abrigo ou de qualquer outro instrumento (Figura 2). O único contato do elemento sensível do termômetro (mercúrio ou álcool) é com o ar ao seu redor.

Figura 2 - Termômetros de máxima (mercúrio) e termômetro de mínima (álcool) dentro do abrigo meteorológico. Fonte: acervo pessoal/Meteorologia - Incaper.

  • Erros mais comuns cometidos durante medições de temperatura

Alguns erros gravíssimos podem facilmente ser cometidos na medição da temperatura, comprometendo a veracidade dos dados. Dentre eles, podemos mencionar: expor o termômetro diretamente ao sol (céu aberto) ou fixando-o em estruturas. Entenda:

 1. Termômetros fixados diretamente ao solo: conforme mencionado anteriormente, medições de temperatura do ar são feitas à sombra, a uma altura de 1,20 m, seguindo o padrão meteorológico mundial. Se o termômetro está fixado ao solo, não servirá de referência para a temperatura do ar, pois o mesmo está medindo a temperatura do solo ou da relva e não do ar (Figura 3).

Figura 3 - Exemplo errado de como medir a temperatura do ar: termômetro fixado ao solo. Fonte: acervo pessoal/Meteorologia - Incaper.

2. Termômetros fixados em paredes e/ou sobre estruturas: qualquer estrutura onde o termômetro esteja fixado acaba por interferir em suas medições. O contato direto com estruturas de concreto, por exemplo, provoca uma troca de calor inadequada da estrutura com o instrumento. Em um teste simples realizado de maneira simultânea e utilizando termômetros de baixo custo, foram colocados dois termômetros, fixados em superfícies diferentes, a poucos centímetros distantes um do outro. Observamos uma grande diferença nos valores medidos por cada instrumento, mesmo as leituras tendo sido realizadas com poucos segundos de diferença (Figura 4).

O instrumento fixado na haste de madeira apresenta valor aproximado de 24 °C, enquanto o termômetro cujo sensor está próximo à estrutura de concreto apresenta valor aproximado de 27 °C. Uma diferença significativa (3 °C) nos valores observados em situações que podem facilmente ocorrer.

Figura 4 - Comparação entre termômetro fixado na madeira e em uma superfície de concreto. Fonte: acervo pessoal/Meteorologia - Incaper.

3. Termômetros expostos à radiação solar direta: estruturas metálicas possuem elevada capacidade de aquecimento/arrefecimento e, para efeito de comparação, foram feitas leituras simultâneas da temperatura do ar dentro do abrigo meteorológico da estação do INMET em Vitória e em um termômetro digital, exposto ao sol em cima de uma estrutura metálica a poucos metros de distância do abrigo. Enquanto a temperatura erroneamente registrada no termômetro digital foi de 33,5 °C, a temperatura medida dentro do abrigo meteorológico foi de 28,9 °C (Figura 5). Como pode-se observar, a diferença nos valores observados é muito significativa e esse erro pode facilmente ser cometido.

Figura 5 - Comparação entre um termômetro digital exposto diretamente ao sol e um termômetro de mercúrio dentro do abrigo meteorológico. Fonte: acervo pessoal/Meteorologia – Incaper.

Recomendações:

  • Devem ser utilizados termômetros aprovados pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e com certificação de calibração e aferição (equipamentos baratos tendem a não possuir certificação de calibração e aferição).
  • Para evitar erros na leitura/medições errôneas ou equivocadas de temperatura do ar, deve-se evitar a exposição dos termômetros às intempéries (radiação solar, vento, chuva) e/ou o contato com qualquer superfície.
  • Ao ler um valor no termômetro meteorológico, o correto é deixar o instrumento na horizontal e na altura da linha de visão (olhos), para evitar erro de leitura (paralaxe*).
  • Sempre que quiser saber qual a temperatura atual ou as máximas e mínimas registradas na sua localidade, procure dados oficiais, como os do INMET e do Incaper.

* Erro de paralaxe é um erro que ocorre pela observação errada na escala de graduação, causada por um desvio ótico causado pelo ângulo de visão do observador.

Curiosidades - o ponto de observação meteorológica mais antigo do Espírito Santo é a estação meteorológica convencional do INMET em Vitória. Em funcionamento desde o final de 1923, a estação está instalada na ilha de Santa Maria. O INMET também instalou em 2006 uma estação meteorológica automática (mais moderna) no campus da UFES na capital (Goiabeiras).

Você pode enviar a sua dúvida ou sugestão através do fale conosco e a gente responde por aqui.

Referências:

Instituto Nacional de Meteorologia – INMET. Instrumentos Meteorológicos. Acesso em: 03 de maio de 2018. Disponível em: http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=home/page&page=instrumentos

Instituto Nacional de Meteorologia – INMET. Estações Convencionais. Acesso em: 03 de maio de 2018. Disponível em:http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesConvencionais

Instituto Nacional de Meteorologia – INMET. Estações Automáticas. Acesso em: 03 de maio de 2018. Disponível em: http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesAutomaticas

World Meteorological Organization - WMO. Guide to the Global Observing System, WMO n°. 488, 3ª ed., Genebra, Suíça, 2007.

World Meteorological Organization - WMO. Guide to Meteorological Instruments and Methods of Observation, WMO n°. 8. Genebra, Suíça, 2008.

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