Dando continuidade à série de postagens sobre os "mitos" que envolvem a meteorologia aqui no Espírito Santo e aproveitando o tempo instável das últimas semanas, abordaremos uma afirmação muito comum: "choveu no Rio, choveu aqui".
Caso você mesmo já não tenha afirmado isso, é muito provável que já tenha ouvido alguém dizer. Mas... Será que isso é, de fato, verdade?
De antemão, devemos explicar que os principais sistemas meteorológicos que ocasionam chuva na Região Sudeste do Brasil, onde estão localizados os Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, são os sistemas frontais e zonas de convergência. Popularmente, estes sistemas são conhecidos como “frentes frias” e “ZCAS” devido à grande divulgação feita pela mídia. No entanto, vale ressaltar que nem toda parte de um sistema frontal é uma frente fria, assim como nem toda zona de convergência caracteriza uma ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul), mas isso já é assunto para uma outra conversa.
Seguindo com nosso raciocínio, aqui no Hemisfério Sul, o ramo frio dos sistemas frontais (frentes frias) avança de sul para norte, uma vez que a propagação das massas de ar frio, que têm origem no polo antártico, se dá em direção ao equador, também com um desvio para leste. Assim, de forma lógica, após passar pelo Estado do Rio de Janeiro, caso esse sistema ainda continue seu deslocamento para norte, o mesmo acabará atingindo o Espírito Santo. É daí que vem toda essa história de “choveu no Rio, choveu aqui” e o conhecimento empírico das pessoas, apoiado no fato de que esses “ventos de sul” mudariam o tempo também aqui no Espírito Santo, sempre.
O fato é que nem todos os sistemas meteorológicos que provocam chuva no Estado do Rio Janeiro se deslocam e passam pelo Espírito Santo. Fatores locais, como o relevo complexo, por exemplo, podem ocasionar, intensificar ou impedir a ocorrência de chuvas. Mesmo os sistemas que se deslocam e passam por aqui, não necessariamente causarão os mesmos fenômenos meteorológicos adversos observados no Rio de Janeiro.
Alguns eventos ocorridos neste ano de 2017 podem exemplificar melhor:
Neste episódio de ZCAS sobre o Estado do Rio de Janeiro, foram observados mais de 100 mm de chuva em 24 horas. Já no dia 20, o sistema se deslocou para o Espírito Santo, provocando acumulados significativos de chuva, principalmente no sul do estado, com temporal e acumulados de chuva em torno de 128 mm no município de Alegre.
Uma frente fria atingiu o Estado do Rio de Janeiro, acarretando acumulados de chuva superiores a 200 mm. Aqui no Espírito Santo, apenas houve aumento de nuvens e queda na temperatura diurna, com chuvisco na capital, Vitória.
Fatores locais somados a áreas de instabilidade ocasionaram uma forte chuva que atingiu áreas da Região Serrana do Rio de Janeiro, causando alagamentos e deslizamentos de encosta. Em Teresópolis, por exemplo, o acumulado foi de 115 mm e, em Guapimirim, 105 mm, em apenas 3 horas. Enquanto isso, aqui no Espirito Santo, o tempo seguiu com sol e poucas nuvens.
Desmistificando o caso:
Acompanhe a Previsão de Tempo na página inicial do nosso site: meteorologia.incaper.es.gov.br
Curiosidade: o mês de novembro de 2015 teve chuva acima da média na maior parte do Rio Janeiro, que sofreu por causa da precipitação excessiva causada por um episódio de ZCAS. Já o Espírito Santo, naquele mesmo mês, passou por um veranico muito intenso, fechando novembro com chuva muito abaixo do normal.
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